Com a disseminação do trabalho remoto, nos meses recentes, começamos a questionar os limites da jornada home office, e as dificuldades em encontrar o equilíbrio ao trazer o escritório para dentro de casa. O resultado? Colocamos em risco nossa saúde mental ao permitir o que vem sendo chamado de “produtividade tóxica” – produção excessiva de trabalho sem descanso. É quando a pessoa não consegue sair do looping mental perigoso, de acordar e dormir trabalhando.
A ideia de produzir o máximo no menor tempo possível já se mostrou insustentável. Para dar conta dessa hiperprodutividade, há um descompasso entre o trabalho e as demais áreas da vida.
O relatório “Índice de Tendências do Trabalho”, elaborado recentemente pela Microsoft, examinou como a pandemia afetou o bem-estar no mundo corporativo, em oito países pesquisados, entre os quais, o Brasil. O estudo relevou dados interessantes: 44% dos colaboradores brasileiros ouvidos estão se se sentindo mais exaustos em comparação com 31% nos Estados Unidos e 10% na Alemanha. Entre os fatores, o principal mencionado é que os dias de trabalho remoto estão mais longos e cansativos.
Outra pesquisa, divulgada pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), apontou que 27% dos profissionais que estavam em home office trabalhavam nas horas vagas para atingir os objetivos e metas da empresa.
Além dos elevados níveis de exigência por parte dos empregadores, existe um perfil de público mais propenso a embarcar na produtividade tóxica, que só traz malefícios à saúde, como ansiedade, depressão, obesidade, síndrome de burnout e outras doenças. Você reconhece algum desses perfis?
– Pessoas controladoras e perfeccionistas, que se cobram demais e não lidam bem com falhas;
– Ambiciosas, buscam reconhecimento profissional e retorno financeiro;
– Sempre insatisfeitas com o resultado que entregam, pois vivem se comparando aos colegas;
– Inseguras, precisam da validação externa para se sentirem valorizadas. Medo de não cumprir as expectativas dos outros.
O papel das lideranças
É evidente que a pressão por resultados aumentou. Mas um bom líder sabe de sua responsabilidade para garantir a saúde mental da equipe. As empresas mais disruptivas já adotam como métrica de produtividade a qualidade, e não a quantidade de trabalho entregue.
Frente a um período de incertezas que ainda vivemos, é fundamental que a empresa possa apoiar seus colaboradores, se possível, com programas internos de acompanhamento psicológico, além de manter um canal de feedback ativo, ouvindo e implementando melhorias que assegurem a saúde mental e o bem-estar do time.
Algumas empresas já são cases de sucesso durante a pandemia, como a rede de ensino bilíngue Maple Bear. A empresa investiu em uma parceria com uma healthtech (startup de soluções em saúde), oferecendo aos funcionários programas preventivos contra ansiedade e depressão. A Nestlé disponibilizou acompanhamento individualizado aos profissionais, com uma rede de apoio formada por médicos, psicólogos e enfermeiros. Também estabeleceu horários flexíveis para algumas funções e adotou novas rotinas de trabalho. Já a Danone ampliou os benefícios aos colaboradores, oferecendo plano de academia com extensão aos dependentes, apoio psicológico e jurídico, ampliação dos descontos em medicamentos, entre outros.
Como sair do ciclo vicioso e preservar a saúde mental
Faça uma autoanálise agora: você tem manifestado algum tipo de nervosismo, irritação, preocupação, estresse, mau humor, fadiga, desânimo, compulsão alimentar, dores de cabeça ou dificuldade de concentração? Atenção a esses sinais.
Todos nós temos dias improdutivos. Os desafios e as cobranças sempre irão existir. Vamos aprender a lidar com nossas emoções em qualquer situação, com planejamento e autocontrole. Confira algumas dicas:
– Não fazer nada também é importante para o corpo e a mente. A ideia de que o tempo não pode ser desperdiçado é parte do mito da produtividade. O descanso físico e mental nos deixa mais eficientes e criativos.
– Divida seu tempo entre trabalho, lazer e descanso. Cuide das necessidades básicas: sono, alimentação e cuidados com o corpo. Faça algum exercício, mesmo que seja uma caminhada de 30 minutos por dia. Encontre amigos, mantenha o contato social.
– Faça pausas durante o home office. Escute uma música, faça um alongamento de 10 minutos e beba muita água.
– Planeje o dia com metas realistas. Defina as tarefas prioritárias, estabeleça um limite de trabalho. A sobrecarga só gera expectativas e frustração, pois nem sempre daremos conta.
– Aprenda a dizer não a tudo que não seja prioridade. Isso inclui passar menos tempo navegando na internet e em redes sociais.
– Mantenha sua rotina, mesmo que esteja em casa. Jamais trabalhe de pijama ou almoce diante do computador.
– Tenha um compromisso com você: defina os dias e horários reservados à academia, cursos e estudos, terapia, meditação, momentos de estar com a família, etc. E cumpra-os!
– Negocie um dia de folga: se o ritmo de trabalho estiver alucinante, aprenda a reconhecer seus limites. Converse com seu líder e solicite uma pausa para recarregar as energias.
– Por fim, responda duas perguntas com sinceridade. O que é sucesso para você? Daqui a 5 ou 10 anos, você terá orgulho da vida que leva hoje? Liste suas prioridades e comece a viver de acordo com seus valores. Sempre há tempo para mudar!
A MasterMind Campinas está aqui para ajudar você nessa transformação. Conheça nossos programas para capacitação de lideranças, desenvolvimento de soft skills, e muitas outras oportunidades que farão você se destacar na carreira.
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Eduardo Mendes é sócio do grupo Master Mind Brasil, especialista em Gestão Estratégica e Liderança pela University of California, San Diego – School of International Relations and Pacific Studies.
