O que um Líder e um Paraquedista possuem em comum?
Quando se está caindo a 200 quilômetros por hora e o chão está a menos de mil metros de distância, temos poucos e valiosos segundos para tomar algumas decisões extremamente relevantes, pois elas têm a importância máxima, a vida. Com informações, experiência e treinamento adequados, isso se torna uma tarefa simples e de baixíssimo grau de fracasso, porém os riscos estarão sempre presentes, resultando em situação possivelmente estressantes. Dependerá de como cada um lida com o medo. Em nossas rotinas estamos sempre tomando decisões e elas definem a trilha das nossas ações, que podem nos conduzir rumo ao objetivo que definimos, ou nos afastar dele.
Vamos aprofundar algumas reflexões com base nesta analogia interessante e divertida, partindo do ponto de vista de um paraquedista em queda livre que tem que acionar seu paraquedas no fim do salto, na altura certa, e ir até o chão em segurança.
1 – Alta capacidade de Concentração e foco no que é importante
Pensar com objetividade é essencial para a tomada de decisão correta. Se não conhecemos nosso objetivo, nunca encontraremos a melhor decisão, pois ela é sempre adequada a um objetivo. Quando mudamos o objetivo, a decisão mais adequada provavelmente mudará. Imaginem se o paraquedista, ao invés de pensar com objetividade no acionamento do paraquedas, começar a pensar por exemplo em curtir um pouco mais o visual ou fazer uma última manobra. A cada segundo perdido com pensamentos errados seu risco de fracasso (morte) aumenta drasticamente. Vale lembrar que este paraquedista tem apenas 4 segundos para acionar o paraquedas na altura correta, após isso já estará baixo demais. Quanto tempo precioso desperdiçamos na nossa rotina diária, semanal ou mensal, com ações divergentes de nossos objetivos principais? Nossos resultados dependem das nossas decisões, portanto, entender quais são nossos objetivos é essencial para alcançá-los. Estar concentrado nas coisas certas gera ações rápidas e assertivas e assim melhoram os resultados.
2 – Autocontrole
Saber lidar com a pressão, manter-se calmo e ter habilidade de escolher os pensamentos certos. A caminho de um salto de paraquedas, ou algum outro esporte de risco, os pensamentos negativos são inevitáveis, até porque desconhecer os possíveis problemas que podem ocorrer também é perigoso. Sabe aquele clássico “e se” isso ou aquilo acontecer? A caminho de seu primeiro salto de paraquedas, quais seriam os seus “e se”? E se o paraquedas não abrir? E se o avião tiver algum problema? E se eu esquecer a sequência do salto? E se meu instrutor tiver algum problema? Já vimos pessoas terem graves problemas quando entram num turbilhão de pensamentos negativos e assustadores. As mãos começam a suar, a boca seca, a motricidade fica imprecisa, a paciência diminui e ações podem ser catastróficas. A boa notícia é que para cada problema destes há uma solução e lembrar destas soluções mantém a mente calma e eficiente, características essenciais para as boas decisões. Sempre temos pensamentos preocupantes, mas se lembrarmos rapidamente qual a solução para cada problema, nossa mente se torna mais calma e eficiente, mantendo nossa autoconfiança para ações produtivas e mais adequadas aos resultados que desejamos. E se as vendas diminuírem? E se eu esquecer minha fala na apresentação? E se meu chefe não gostar? Os “e se” podem ser intermináveis, nos tiram do foco e diminuem nossa eficiência. Aprendendo a controlar nossos pensamentos melhoramos bastante nossos resultados, além de conquistarmos uma vida mais leve.
3 – Espírito de Liderança
A mente tranquila e eficiente também é responsabilidade do líder, e para ilustrar, vou contar uma história divertida. Uma reunião de planejamento (briefing) antecede todo salto de paraquedas e a condução deste planejamento é conduzida, geralmente, pelo mais experiente do grupo. Um sujeito chamado Dan B.C., um dos maiores líderes de saltos de grandes formações do mundo, precisava de aproximadamente 30 segundos de discurso no briefing que antecedia cada salto com mais de cem pessoas. Instrução positiva, organização, foco na coisa certa e tranquilidade na fala eram algumas de suas habilidades para liderar os mais de cem paraquedistas num salto eficiente e seguro. Mas nem todos os líderes são tão habilidosos. Certa vez, presenciei o contrário da liderança e instrução positivas, onde um grupo de 8 paraquedistas civis que eu integrava foi convidado para uma demonstração em conjunto com um grupo de paraquedistas militares, numa festa aberta ao público promovida pela academia das forças armadas. Estaríamos todos juntos dentro do mesmo helicóptero, mas sairíamos da aeronave em momentos diferentes. O planejamento foi conduzido pelos militares, que nos chamaram para uma sala de reuniões e, provavelmente por razões culturais, durante 15 minutos, passaram vídeos de acidentes aéreos em demonstrações como a que faríamos a seguir. Foram cenas assustadoras: colisões, explosões, quedas de avião e mortes passavam repetidamente na televisão de tela grande que havia na sala. Imagens e sons reais das catástrofes. Rapidamente os “e se” de preocupação e medo foram crescendo dentro de nós. Saímos da sala assustados e enquanto nos equipávamos, havia um silêncio de sepultamento, algo pouco comum num ambiente de amigos que se preparavam para uma atividade de risco, mas ainda assim, recreativa. Já equipados e um pouco antes de nos dirigirmos ao helicóptero que começava a girar seus rotores, o paraquedista mais experiente de nosso grupo de civis quebrou o silêncio e nos disse sorrindo, confiante e relaxado.
– Vamos esquecer de tudo isso que vimos agora há pouco. Olhem que dia lindo. Vamos nos divertir com segurança. Sabemos fazer isso muito bem, caso contrário, não teríamos sido convidados para este evento.
A caminho do helicóptero, já sentindo o vento na cara, estávamos todos de cabeça erguida, confiantes e com os sorrisos estampados no rosto. Fizemos um salto excelente e nossa qualidade foi reconhecida pelos militares, que admiraram nossa capacidade técnica e nossos padrões de extrema segurança. Não era necessário sentir medo para fazer as coisas certas.
Qual dos líderes nós somos quando preparamos nosso time para situações desafiadoras? Apresentamos um cenário de risco que produza medo em nossa equipe de trabalho? Mostramos a eles tudo que NÃO devem fazer? Os fazemos pensar que provavelmente não são capazes de cumprir a missão, mas que mesmo assim terão que fazer? Ou apresentamos os pontos importantes a serem considerados, mostrando, por exemplo, uma solução para cada possível problema, reforçando as qualidades individuais e do grupo, demonstrando que possuem todo o necessário para entregar os resultados esperados.
Liderar, primeiro a si mesmo, escolhendo os pensamentos certos, tomando decisões alinhadas com os objetivos, e a partir daí, trabalhar nossa capacidade de liderar nosso time em busca dos objetivos comuns são habilidades extremamente importantes e treináveis, que trazem melhores resultados para saltos de paraquedas, para a produtividade das empresas, para os negócios e para a vida.
Pedro Raposo
Consultor de Treinamentos MasterMind Campinas, graduado em educação física pela UNiCAMP, pós graduado em Gestão Empreendedora de negócios, ex-capitão da seleção brasileira de Hockey e paraquedista nas horas vagas.